quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Internet vs Industria Cultural

Considerando a atual difusão da pirataria e propagação de arte, notadamente o cinema e música, pela internet, é importante questionarmos até que ponto essa tendência, aparentemente irreversível, é uma conseqüência da maneira como a industrial cultural se impôs na nossa sociedade ocidental consumista.

Com a adequação das produções de massa para os padrões do puro entretenimento, que não alimentam nenhum senso crítico e apenas reproduzem fórmulas passíveis de serem comercializadas, nota-se uma banalização e até desaparecimento da arte em sua forma natural, já que as manifestações culturais artísticas autênticas, que não têm como principal finalidade o lucro e tendem a passar uma visão de mundo naturalmente não massificada, são suprimidas pelos diversos meios de comunicação e divulgação, estando fadadas à obsolescência pela grande mídia.

Nesse contexto, a arte em geral perde o valor humano que tivera outrora, pois não representa mais a manifestação de uma visão de mundo e cultura particular, e sim uma reafirmação de um sistema que anula as diferenças e busca unicamente a padronização comportamental e ideológica do indivíduo.

No novo contexto, quem perde mais são as anteriormente lucrativas gravadoras e produtoras, que dominam alguns meios artísticos e exercem grande interferência no produto final. Músicos pop terão que buscar outras maneiras de garantir o seu tão almejado dinheiro, já que a difusão do compartilhamento de musicas pela internet e a pirataria acaba por quase destruir a receita da venda de discos.

Por outro lado, artistas que não se submetem às exigências mercadológicas da indústria de massa não se mostram tão afetados pela internet. Ao invés de se sentirem prejudicados, utilizam a rede mundial de computadores como forma de divulgação, com eficiência e eficácia sem precedentes, já que atingem o público mais facilmente e conseguem reconhecimento muito mais pelo talento e inovação na produção, do que pela tática de marketing que fora empregada na divulgação do trabalho.

Esse novo fenômeno traz uma divisão de gêneros e sub-gêneros musicais que jamais houvera antes, pois qualquer inovação artística, mesmo que não se torne tendência a ser seguida, conseguirá seu público, por menor que este seja. É nesse refluxo de possibilidades criativas que percebemos como há uma tendência crescente à rejeição das manifestações culturais de massa, corrompidas pelo lucro, em detrimento da arte pela arte, ou cultura alternativa, que é muitas vezes um grito abafado ganhando força através da reconhecida principal vantagem da indústria cultural: a facilidade de divulgação.

Portanto, a pirataria online, assim alcunhada pelas gravadoras, ou o compartilhamento de arquivos via internet, é em seu âmago uma tendência oposta à uniformização e padronização dos gostos estéticos e artísticos proposto pelas corporações que trabalham com a arte. Desse modo, há uma mudança no ganha pão dos artistas, que se desvinculam fortemente das algemas das empresas, e voltam a ter a liberdade criativa inerente ao ofício, gerando um ambiente social cultural mais diversificado e possivelmente mais crítico, que disponibiliza de mais recursos para se defender da imposição cultural atualmente existente.


Giovani E. Ribeiro 22/09/2008

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